domingo, agosto 28, 2011

One Hit Wonders - Tomo II

No post anterior, introduzimos carinhosamente a nova rubrica "One Hit Wonders" da mesma forma que o Sporting de Lisboa introduz reforços na equipa: à trolha, à pressa, atabalhoadamente e sem sucesso.

Não, a sério, até ficou giro.

Passemos então à segunda tentativa de enfiar a cultura musical dos 80's a martelo neste espaço boçal de insalubridade: todos a bordo do Paquete Playlist - esperemos por uma viagem agitada à medida que sulcamos as águas do Oceano Cromático.

Girando freneticamente em círculos na proa, o grumete Zé Bala.

Nome de guerra: José Dominguez
Comparação: MC Hammer – “Can’t Touch This”










Uma das regras-base para uma boa mixtape é abrir em grande estilo, com ritmos frenéticos e um “hook” repetitivo. O tinha tudo isso: estilo não lhe faltava, o ritmo nunca abrandava, e habilmente rimava. Porém, a finalidade do seu chinfrim era certamente duvidosa, tal como um livre do Pedrosa.

Style over substance, diziam eles. Reflexo da década da decadência. Do mesmo mal vivia MC Hammer. O calendário marcava 1990, mas a sua masterpiece berrava 1985 do alto de um falso pedestal “pop” esculpido a pés de barro e MTV awards. Um anacronismo em reverso. Um Bobo da corte glorificado com calças de Aladino, adorno capilar topo de gama, qual cereja no topo de um bolo comido e ferozmente cuspido um ano mais tarde por Kurt Cobain, Eddie Vedder, Layne Staley e restantes companheiros. Pragmatismo acima de tudo! Céu cinza e chuva de Seattle a cobrir almas pensativas de sobrancelha grave e sobrolho pesado.

O nosso MC não resistiu a esta mudança de atitude. Cedo rastejou pelas sarjetas da vida, recolhendo pedaços nojentos daquilo que outrora fora considerada uma carreira triunfante. O seu futuro seria traçado a tons de passado, um lembrete constante dos excessos de azeite de anos transactos…tal como Zé Bala, ícone fugaz de uma geração bolística ávida de criatividade e da vertiginosa velocidade de uma espiral que não acaba nunca. Ou pelo menos, nunca acaba em nada de jeito. Zé Bala fugazmente brilhou, apagou e partiu para nunca mais voltar. Algures encontrar-se-á com MC Hammer, e com um copito de Champomy de permeio, recordarão momentos fugidios de glórias vãs.


sábado, agosto 20, 2011

One Hit Wonders - Tomo I


One Hit Wonders.

Expressão demasiado associada com os Eighties, dadas as virtudes aglutinadoras dos tubos catódicos, que alegremente cuspiram o supracitado conceito através do canal VH1 e respectivas retrospectivas alicerçadas no pop da década da decadência.

Não obstante, o conceito de “One Hit Wonder” poderá ser de igual forma adaptado ao nosso tema favorito: a estomatologia.

E ao futebol também.

Deixemos então a estomatologia por um segundo (guardem os livros, por favor) e concentremo-nos no casamento perfeito entre One Hit Wonders dos anos 80 e a Bola Lusitana.

Ao jeito daquelas K7’s de compilações que fazíamos no secundário para impingir às miúdas que queríamos sacar, embarquemos então a bordo do Paquete Playlist, e esperemos por uma viagem agitada à medida que sulcamos as águas do Oceano Cromático.

- 1º Candidato:

Sorvendo um suco de acerola no porão, o primeiro imediato Bena.

Nome de guerra: Selim Benachour
Comparação: Cutting Crew - “(I Just) Died in Your Arms Tonight”

I keep looking for something I can't get

Broken hearts lie all around me
And I don't see an easy way to get out of this
(…)
The curtains are closed, the cats in the cradle
Who would've thought that a boy like me could come to this
Oh I, I just died in your arms tonight

Solitário, Selim limpa penosamente as lágrimas do rosto enquanto observa o relvado de expressão vazia cobrindo o olhar. Distante e penosamente ausente, qual last man standing numa batalha repleta de casualidades sangrentas. Corpos inanimados espalhados pelo relvado, entoando um requiem silencioso ao Vitória caído.

Emoldurando o deprimente cenário, um Coliseu de almas dilaceradas exige sangue. Uma amálgama de urros desesperados e lágrimas que queimam o próprio esqueleto do anfiteatro – e o espírito dos fundadores da Nação – encima os céus do Burgo, berço de um Império outrora orgulhoso.

Selim sabe que não há ponto de retorno. Não existe uma saída airosa, uma luz ao fundo do túnel. As luzes apagam-se, a cortina corre – final do 3º acto. Olá à 2ª Liga.

E Bena, alvo Cavaleiro da ordem de Vimaranes, desce finalmente de seu branco corcel, desembainha a espada e deixa-a cair numa poça de sangue. Todo o esforço fora em vão. O garboso Tunisino e seu fiel escudeiro Saganowski falharam.

Os Mouros – na pessoa colectiva do Estrela da Porcalhota – haviam conquistado o castelo de Guimarães e confirmado o inevitável: a Cruzada falhara e o tempo de Conquistas fora impiedosamente decapitado. Um golpe certeiro do agora Khazariano Semedo abalara o próprio solo onde Portugal um dia ousara ser Portugal.

E agora? Benachour só aqui sabia ser feliz. O seu passado tinha sido vazio de significado até chegar ao Minho. O futuro? Uma incógnita.

O Vitória, paixão-símbolo de uma Vida, chamamento finalmente descoberto, era finito.

Seguir-se-iam anos de exílio forçado, sem qualquer centelha de alegria ou sucesso.

Oh I, I just died in your arms tonight


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